PF faz busca em casa de Bolsonaro e prende ex-assessores do ex-presidente
Polícia Federal cumpre na manha desta quarta-feira (3) mandado de busca e apreensão em endereço do ex-presidente ajudante de ordens, Ailton Moraes Barros, candidato a deputado estadual pelo PL-RJ em 2022, e João Carlos de SousaJair Bolsonaro (PL) e de prisão contra seus ex-assessores Mauro Cid e Max Guilherme.
Também são alvos de mandado de prisão Sergio Cordeiro, segurança de Bolsonaro, Luís Marcos dos Reis, ex- Brecha, secretário em Duque de Caxias (RJ) – esse último também foi preso.
As medidas são no âmbito de uma investigação, diz a PF, sobre uma suposta “associação criminosa constituída para a prática dos crimes de inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas SI-PNI e RNDS do Ministério da Saúde”.
“A apuração indica que o objetivo do grupo seria manter coeso o elemento identitário em relação a suas pautas ideológicas, no caso, sustentar o discurso voltado aos ataques à vacinação contra a Covid-19”, afirma a PF.
De acordo com a Polícia Federal, os alvos da investigação teriam realizado as inserções falsas entre novembro de 2021 e dezembro de 2022 para que os beneficiários pudessem emitir certificado de vacinação para viajar aos Estados Unidos.
Segundo a Folha apurou, há suspeita de que os registros de vacinação de Bolsonaro, Cid e da filha mais nova do ex-presidente, Laura, foram forjados.
A PF diz ainda que as diligências são cumpridas dentro do inquérito das milícias digitais, que tramita no STF (Supremo Tribunal Federal) e tem como relator o ministro Alexandre de Moraes.
“Os fatos investigados configuram em tese os crimes de infração de medida sanitária preventiva, associação criminosa, inserção de dados falsos em sistemas de informação e corrupção de menores”.
Os policiais federais cumprem 16 mandados de busca e seis de prisão preventiva em Brasília e no Rio de Janeiro.
Os investigadores também realizam a análise do material apreendido durante as buscas e tomam o depoimento de suspeitos de terem informações sobre a suposta fraude na inserção de dados nos sistemas do Ministério da Saúde.
Desde o início de 2020, quando o coronavírus começava a se espalhar pelo mundo, Jair Bolsonaro deu uma série de declarações nas quais sempre buscava minimizar os impactos da pandemia da Covid-19.
Como presidente, ele propagou discurso negacionista e usou palavras histeria e fantasia para classificar a reação da população e da imprensa à pandemia.
Bolsonaro também distribuiu remédios ineficazes contra a doença, incentivou aglomerações, atuou contra a compra de vacinas, espalhou informações falsas sobre a Covid-19 e fez campanhas de desobediência a medidas de proteção, como o uso de máscaras.
Preso nesta quarta-feira, o coronel Cid era uma espécie de braço direito de Bolsonaro, relação que o levou a entrar na mira da PF.
Ele foi um dos indiciados pelo vazamento da apuração utilizada por Bolsonaro em uma transmissão de 4 de agosto de 2021, em que contestou a segurança do sistema eleitoral e levantou suspeita de fraude nas eleições de 2018.
Informações obtidas a partir da quebra de sigilo telemático de Cid também indicaram a participação na live de 21 de outubro de 2021 em que Bolsonaro fez uma falsa associação entre a vacinação contra a Covid e o desenvolvimento da Aids.
Preso nesta quarta-feira, Cid também é investigado no inquérito das milícias digitais por transações suspeitas em favor de Bolsonaro, também descobertas pela PF a partir da quebra dos sigilos telemático e bancário.
Também alvo da PF, o secretário de Governo de Duque de Caxias, José Carlos de Sousa Brecha, foi preso na manhã desta quarta. A chefe da central de vacina da cidade da Baixada Fluminense, Cláudia Helena Acosta Rodrigues da Silva, também foi conduzida para prestar depoimento na sede da PE, no Rio. Ambos fazem parte do grupo político do ex-prefeito da cidade; Washington Reis, aliado de Bolsonaro.
Caxias foi uma das cidades no estado que mais acelerou as primeiras fases da vacinação contra a Covid, em 2021, sem seguir a ordem de prioridades sugerida pelo Ministério da Saúde.
O irmão do ex-prefeito, o deputado federal Gutemberg Reis (MDB-RJ) também foi alvo na operação. Contra ele, a PF cumpriu um mandado de busca e operação em um endereço do congressista no Rio. Reis, porém, estava em Brasília.
O segundo preso no Rio foi o militar Ailton Gonçalves Moraes Barros, que foi eleito como suplente para a Aleri (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro). Ele concorreu pelo PL e se autointitulava o “01 do Bolsonaro” no estado.
A Folha tenta contato com a defesa dos quatro, mas ainda não teve retorno.
Por Folha de São Paulo