Morre aos 90 anos o escultor pernambucano Abelardo da Hora
Do NE10
O escultor, pintor e desenhista pernambucano Abelardo da Hora, 90 anos, morreu no fim da manhã desta terça-feira (23), vítima de parada
cardiorrespiratória. Ele estava internado há cerca de um mês no Hospital Memorial São João José, área central do Recife. Desde que deu entrada na unidade de saúde, ele sofreu três quadros de infecção pulmonar. Na última crise, não resistiu e faleceu às 8h45. O velório será realizado no Salão Nobre da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), a partir das 15h de hoje. O enterro está marcado para as 11h desta quarta-feira (24), no Cemitério de Santo Amaro, Centro do Recife.
Filho de uma família de sete filhos – Abelardo é o segundo e um deles é o cantor Claudionor Germano -, ele nasceu em São Lourenço da Mata, no Grande Recife, no dia 31 de julho de 1924. Radicado na Capital pernambucana na década de 1930, ele começou a moldar suas primeiras obras nas aulas da Escola de Belas Artes do Recife, antes de ingressar no curso de direito da Faculdade de Olinda, nos anos 1940.
Abelardo deu seus primeiros grandes voos nas artes plásticas, sob a tutela do industrial Ricardo Brennand – ex-chefe do seu pai, Cazuza. Foi quando deu aulas a Francisco Brennand: “Ele desistiu do curso de Direito para estudar arte comigo”.
Em entrevista recente ao Jornal do Commercio, por ocasião das homenagens pelos 90 anos, Abelardo falou sobre sua relação com a política e cultura, o que o transformou num artista politicamente combativo e fortemente defensor do povo.
Na ocasião, o artista relembrou o nascimento do Movimento de Cultura Popular (MCP): “Eu fiz parte do conselho de direção, junto com Geraldo Menutti e Luiz Mendonça. Representávamos a parte de cultura do Movimento de Cultura Popular; e o grupo católico, que cuidava da educação, era liderado por Paulo Freire. Nesta mesma época, fiz 22 desenhos sobre a situação de miséria da cidade. Era Meninos do Recife. Sobre a fome e a pobreza que esse meninos viviam”.
Em abril de 1948, quando fazia sua primeira exposição de escultura no Recife, Abelardo da Hora conheceu o grande amor da vida, Margarida Lucena, de quem ficou viúvo há quatro anos. O amor, porém, continuou presente em todos os cantos do seu atelier, localizado na casa 307 da Rua do Sossego, no Centro do Recife. Para eternizar seu amor, o artista esculpiu o busto da esposa.
Um artista incansável, que mesmo aos 90 anos não parou de criar, Abelardo da Hora possuiu importante papel na renovação do panorama artístico recifense e brasileiro. Ele foi responsável pelo projeto de Lei que obriga a existência de obras de arte em edificações com mais de 1500 m2 no Recife, além de criar a Sociedade de Arte Moderna do Recife.
Abelardo inaugurou, a partir de 2007, uma série de monumentos no Recife, onde se destacam oMonumento aos Retirantes, no Parque Dona Lindu, em Boa Viagem; o Monumento ao Maracatu, nas proximidades do Forte das Cinco Pontas; e oMonumento ao Frevo, na Rua da Aurora.
A última obra foi O Artilheiro, na Arena Pernambuco, São Lourenço da Mata. De acordo com Abelardo da Hora Filho, uma obra do pai ficou sem ser concluída: a escultura de Gregório Bezerra, torturado em 1964