Política

Ex-presidente Bolsonaro reúne milhares na Paulista

Ex-presidente discursou para apoiadores na Avenida Paulista, neste domingo, 25, em ato convocado para mostrar apoio popular diante da pressão que tem sofrido com investigações

Ato convocado por Bolsonaro na Avenida Paulista recebe milhares de pessoas neste domingo. Ex-presidente é investigado pela PF por tentativa de golpe de Estado Foto: Tiago Queiroz/Estadão

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou neste domingo (25), durante ato político na Avenida Paulista, em São Paulo, que sofre uma perseguição que se recrudesceu depois que deixou a Presidência no fim de 2022 e pediu anistia a presos do 8 de Janeiro. Em um discurso para milhares de apoiadores, o ex-mandatário negou liderar uma articulação golpista depois da derrota nas eleições.

Ele minimizou a existência da “minuta do golpe”, da qual foi o mentor, segundo a Polícia Federal (PF). Segundo ele, estados de sítio e defesa estão previstos na Constituição e só poderiam ser acionados depois de consulta a conselhos da República e deliberação do Congresso, o que não ocorreu.

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro chegou à concentração do evento, no Museu de Arte de São Paulo (MASP), pouco antes do ex-presidente, sendo aplaudida pelos manifestantes, que foram ao ato vestidos de verde e amarelo e com bandeiras do Brasil e de Israel. Ela foi a primeira pessoa a discursar na manifestação, com uma fala de aproximadamente 15 minutos, que incluiu uma oração.

Em seu discurso em tom religioso, Michelle disse que o País está sendo “mal administrado” e que o ex-presidente é vítima de “ataques” e “injustiças”. Ela ainda fez alusão a facada sofrida por Bolsonaro em 6 de setembro de 2018, durante a campanha presidencial naquele ano, e afirmou que as pessoas presentes no ato são um “Exército de Deus nas ruas”.

Na sequência, falaram os deputados Gustavo Gayer (PL-GO) e Nikolas Ferreira (PL-MG), além do senador Magno Malta (PL-ES). Por volta de 15h, a reportagem identificou a presença de cerca de 25 parlamentares na manifestação, entre deputados federais e senadores.

Diferente de outras manifestações bolsonaristas, faixas e cartazes com ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) não foram identificados pela reportagem. Apesar de poupar críticas ao Supremo, os manifestantes proferiram gritos pedindo o impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Nesta semana, parlamentares bolsonaristas protocolaram um pedido de impeachment contra o atual presidente, após ele ter ter comparado os ataques israelenses na Faixa de Gaza ao Holocausto. Os apoiadores do ex-presidente também ecoaram o verso “volta, volta, Bolsonaro”.

A manifestação na Paulista é bancada pelo pastor evangélico Silas Malafaia, que estimou na sexta-feira desembolsar entre R$ 90 mil e R$ 100 mil para arcar com toda a estrutura do evento, como fornecimento de água, instalação de grades e transmissão pela internet — há seguranças privados, mas a Polícia Militar também atua no local. Malafaia alugou dois trios elétricos que estão dispostos em “L”: um maior, onde está Bolsonaro e os aliados mais importantes, de onde são feitos os discursos e um segundo veículo, sem estrutura de som, para abrigar os demais convidados, fotógrafos e cinegrafistas.

Estão presentes os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), com quem Bolsonaro se hospedou na capital paulista, Ronaldo Caiado (União-GO), e Jorginho Mello(PL-SC), além de senadores, deputados federais e estaduais de diversos Estados brasileiros. O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (PL-SP), também está no local.

O Estadão identificou a organização de caravanas partindo de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso e Distrito Federal. O ex-presidente desestimulou a realização de manifestações em todo Brasil e pediu que seus apoiadores se concentrassem na Avenida Paulista em uma tentativa de demonstrar o máximo de apoio popular possível.

Bolsonaro pediu que os manifestantes usem as cores verde e amarelo e que não levem cartazes contra o Supremo Tribunal Federal(STF) ou outras instituições. Além da preocupação com possíveis consequências judiciais, é uma tentativa de manter o foco da manifestação como uma resposta às investidas judiciais contra o ex-presidente, que se considera perseguido pelo STF e pelaPolícia Federal.

O ato foi convocado pelo próprio Bolsonaro quatro dias após ele ter sido alvo da operação Tempus Veritatis (a hora da verdade, em português) no dia 8 de fevereiro. A PF investiga suposta tentativa de golpe de Estado no Brasil antes e após a eleição de 2022. O ex-presidente teve o passaporte confiscado e quatro ex-assessores dele foram presos preventivamente.

Bolsonaro prestou depoimento sobre o caso na quinta-feira, 22, mas ficou em silêncio. A defesa do ex-presidente chegou a pedir, sem sucesso, o adiamento do depoimento sob a alegação de que não teve acesso às íntegras do processo e da delação do ex-ajudante de ordens Mauro Cid. A operação da PF se baseou em materiais disponibilizados por ele, como mensagens trocadas com aliados do ex-presidente e o vídeo de uma reunião ministerial em julho de 2022.
Com base no conteúdo encontrado no celular de Cid, a PF afirma que Bolsonaro participou da elaboração do rascunho de um decreto que previa a realização de novas eleições e a prisão de autoridades, como os ministros do STF Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco(PSD-MG). Por sugestão do ex-chefe do Executivo, o documento foi modificado e apenas a prisão de Moraes foi mantida. O decreto nunca entrou em vigor.

No vídeo encontrado no computador do ex-ajudante de ordens, o ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, afirma que “se tiver que virar a mesa é antes das eleições”. Ele também foi alvo da Tempus Veritatis ao lado dos ex-ministros Braga Netto, Anderson Torres, Paulo Sérgio Nogueira, do ex-comandante da Marinha, Almir Garnier Santos, e do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, que foi preso em flagrante pela posse de arma de fogo para a qual não tinha autorização. No total, 23 pessoas prestaram depoimento simultâneo ao de Bolsonaro na quinta-feira. Ao contrário dos demais, Torres e Valdemar responderam as perguntas dos investigadores.

Além da suposta tentativa de golpe, Bolsonaro é alvo de outras investigações que estão no STF. Entre elas, a venda de joias recebidas como presentes pela Presidência da República, caso revelado pelo Estadão, a fraude nos cartões de vacina do ex-presidente e sua filha e o inquérito que apura os autores intelectuais do 8 de Janeiro, quando manifestantes golpistas invadiram o Palácio do Planalto, o Congresso e o STF.

Por Estadão

Da redação

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