Programa Águas de Pernambuco investe R$ 6,1 bilhões para diminuir racionamento e acelerar obras no Estado
Em Manari, no Sertão de Pernambuco, a população do pequeno município convive com um racionamento de 28 dias sem água e apenas 2 com abastecimento. Diante das torneiras vazias, famílias enfrentam uma rotina de carregar baldes e garrafões, peregrinando em busca de água.
Assim como os moradores da cidade sertaneja de Manari, metade dos pernambucanos vive o drama dos rodízios. Diminuir o intervalo do abastecimento é um dos quatro eixos do programa Águas de Pernambuco, apresentado oficialmente pela governadora Raquel Lyra nesta quarta-feira (16), durante evento no Centro Cultural Cais do Sertão, no Bairro do Recife.
A importância do anúncio pôde ser medida pela quantidade de prefeitos presentes: foram 19 de todas as regiões do Estado; além de empresários, parlamentares e secretários de governo. A governadora prefere falar em institucionalização do programa, ao invés de lançamento. Isso porque a iniciativa vem sendo pensada desde o início do governo, mas só agora foi possível apresentar oficialmente, em função da viabilização dos recursos de R$ 6,1 bilhões.
“Estamos trabalhando há bastante tempo, mas a governadora só quis anunciar quando os recursos estivessem disponíveis para tocar os projetos. Isso vai garantir que as obras terão princípio, meio e fim”, destaca o secretário de Recursos Hídricos e Saneamento de Pernambuco, Almir Cirilo.
O Águas de Pernambuco está distribuído em quatro eixos: Segurança Hídrica; Abastecimento de Água; Coleta e Tratamento de Esgoto; e Saneamento Rural. Do total de R$ 6,1 bilhões; R$ 3,9 bilhões serão destinados à água e R$ 2,2 bilhões a esgoto. A iniciativa prevê a realização de 1.0407 obras e ações, que incluem execução e conclusão de obras, construção de novas barragens, reestruturação de unidades, substituição de equipamentos e implantação de novas tecnologias.
INVESTIMENTO POR REGIÃO
Os investimentos também vão pivilegiar localidades com maior número de famílias para garantir maior efetividade. Na distribuição por região do Estado, o Sertão vai receber R$ 1,2 bilhão; o Agreste R$ 2 bilhões; as zonas da mata R$ 600 milhões e a Região Metropolitana R$ 2,3 bilhões. Os recursos virão de fontes como a União (R$ 1,9 bilhão), o Governo do Estado (R$ 1,3 bilhão, por meio de operação de crédito); Compesa (R$ 1,4 bilhão, também por operação de crédito) e de Parceria Público Privada (R$ 1,5 bilhão).
No seu discusrso, Raquel Lyra disse que, se o povo pernambucano teve a ousadia de eleger duas mulheres, é porque clamava por mudança. “A água será o eixo-central do nosso governo. Vamos entregar água e saneamento e buscar cumprir o Marco Legal (do Saneamento, que prevê 99% de acesso a água e 90% de acesso a esgoto para a população até 2033)”, diz. Estudo do BNDES aponta que Pernambuco precisa de R$ 30 bilhões para tornar a universalização de água e esgoto uma realidade. Os R$ 6,1 bilhões são um começo, restando R$ 24 bilhões para captar.
Com 1,8 milhões de pessoas sem acesso a água potável em Pernambuco, a governadora diz que quer ver essa água chegar no chuveiro. “A pessoas pessoas precisam tomar banho de pé, no chuveito, porque hoje é grande a quantidade de gente que não tem chuveiro. A água é fundamental. Ela significa cidadania, dignidade e esperança”, afirma.
O agricultor Edmilson Rosa, de 52 anos, mora em Carnaubeira da Penha, no Sertão de Itaparica, e destacou a importância dos investimentos feitos pelo Governo do Estado. “Recentemente fomos beneficiados com a chegada das águas do Rio São Francisco. Um sonho de anos que se tornou realidade em nosso município. Anteriormente, a população consumia água contaminada e hoje, graças à governadora, essas ações chegam na nossa cidade. Vemos o governo presente no município, tanto com a chegada da água do São Francisco quanto com a água nas torneiras e a instalação de dessalinizadores”, conta.
2º PIOR RACIONAMENTO DO BRASIL
Raquel também lembrou que Pernambuco tem o segundo pior racionamento de água do Brasil, atrás apenas do Acre. Quando se fala em déficit hídrico, o Estado está em primeiro lugar, com um volume pequeno de água disponível por pessoa.
Essa situação de atraso tem explicações naturais, mas também de má gestão dos recursos hídricos ao longo da história do Estado. A questão geológica e geográfica influenciam, dificultando a chegada da água em algumas áreas e a escassez de chuvas em várias regiões compromete o abastecimento, mas a falta de gestão trouxe problemas como o sucateamento da infraestrutura hídrica existente e do abandono de obras sem conclusão.
O presidente da Compesa, Alex Campos, deparou-se com essa realidade, quando aceitou o convite da governadora para sair de Brasília e vir para Pernambuco assumir uma companhia endividada, com alto nível de perdas, com dificuldade de realizar investimentos, bombas com tempo de uso vencido e adutoras explodindo porque não têm mais condição de suportar determinado volume de água.
“A falta de água é uma realidade dura que castiga milhões de pernambucanos. E isso não pode ser normalizado, naturalizado. Isso é uma calamidade. Cerca de 1,8 milhão de pessoas não têm acesso à água potável. Já 70% da população mora em regiões sem coleta nem tratamento de esgoto. Mais da metade da população vive em sistema de rodízio. Em São Bento do Una, município economicamente importante, por exemplo, são 3/4 dias com água para 25/26 sem. Esse é um drama de todos os municípios e está associado ao subfinanciamento crônico que o saneamento enfrenta no Estado”, observa.