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Monitor da Violência: dois anos depois, 62% das mortes contabilizadas em PE não foram solucionadas

Das 106 mortes registradas entre 21 e 27 de agosto de 2017 no estado, 39 tiveram o inquérito concluído. Houve apenas dois julgamentos, que culminaram em condenações.

Avó de adolescente grávida morta em Paulista mostra roupas compradas para filho da menor — Foto: Marina Meireles/G1

G1

Dois anos depois das mortes violentas contabilizadas pelo Monitor da Violência, entre 21 e 27 de agosto de 2017, a Polícia Civil solucionou menos da metade dos casos no estado. Ao todo, 62% das ocorrências ainda não saíram da instância de investigação. Em Pernambuco, 39 inquéritos foram concluídos, mas 66 seguem em aberto, dos 106 casos registrados.

O andamento de um dos casos não foi informado ao Monitor da Violência, uma parceria do G1 com o Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da Universidade de São Paulo (USP) e com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O projeto contabiliza e acompanha casos de homicídio, latrocínio, feminicídio, morte por intervenção policial e suicídio.

No país, das 1.195 mortes violentas registradas, quase a metade segue em investigação na polícia. Só um em cada cinco casos teve uma prisão efetuada, e menos de 5% já têm um condenado pelo crime.

Os números refletem a realidade da família de Shayene Rodrigues, de 14 anos, morta a tiros em 26 de agosto de 2017. Ela estava grávida de 7 meses e o filho também não resistiu. Na mesma ocasião, também foi morto Carlos Vinícius de Oliveira Castro, de 21 anos, companheiro dela e pai da criança que ela gestava.

Depois de mais de dois anos do crime, cometido na Rua Noventa e Oito, em Maranguape II, em Paulista, no Grande Recife, as respostas sobre o assassinato também parecem se distanciar dos parentes da adolescente e dão força à inconformidade já provocada pela perda da jovem.

“A gente não tem nenhuma notícia de nada. Nenhum investigador, delegado, comissário, ninguém da polícia veio aqui para falar da investigação. Quando chega lá, dizem que está em investigação. Quando vê isso, na verdade, está arquivado. É melhor deixar na mão de Deus, que ele resolve”, conta um dos parentes de Shayene, que prefere não se identificar.

Tia de Shayene, a bombeira Simoní França relembra que a jovem havia discutido com o companheiro e estava na casa da mãe, no Cabo de Santo Agostinho, também no Grande Recife, mas voltou a Paulista na noite do crime para entregar uma cesta básica ao pai do bebê que carregava.

“Ela recebeu essa cesta na igreja e veio para entregar a ele. Quando chegou, ele pediu para ela dormir lá, com ele. Ela ficou, e pouco depois a gente soube da notícia. Ela veio para a morte”, afirma a bombeira.

Convicta de que o tráfico de drogas motivou o crime, a avó de Shayene, Maria José Santana, afirma ter tentado livrar a neta desse caminho e lamenta não ter tido sucesso “A gente dava muito conselho a ela. Dizia ‘você é uma menina nova, bonita’. Ofereci muitas coisas a ela, mas ela dizia que queria viver com o pai do filho dela”, conta. 

No caso da morte de Shayene e Carlos Vinícius, a polícia informou, em 2018, que havia identificado os autores do crime, mas que ninguém havia sido preso. Neste ano, a corporação voltou atrás e disse que ninguém foi apontado como autor do crime. A Polícia Civil disse, ainda, que o caso teve “acerto de contas” como motivação.

Nas mãos da avó da vítima, as roupas do enxoval comprado durante a gravidez de Shayene lembram à família a vida que os dois, mãe e bebê, não podem mais ter. Maria José Santana lamenta a perda da neta lembrando que o próprio filho, pai da adolescente assassinada, também teve a vida interrompida por um assassinato, anos antes.

“A saudade é muita. Perdi o pai dela e ela. Faz uns 10 anos ou mais que o mataram. É uma dor que eu não quero para mãe nenhuma”, diz a avó da adolescente.

Os dados

A falta de resposta aos assassinatos ocorridos no período registrado pelo Monitor da Violência se repete na identificação dos autores dos crimes. Ao todo, 58 casos seguem sem ter autores identificados, enquanto 43 deles tiveram a autoria encontrada. O número de mortes sem autoria representa mais da metade do total, chegando a 54,7%.

Em dois casos, a identificação dos criminosos não foi informada e outras duas mortes são tratadas como suicídios e, por isso, a própria vítima é a autora. Confira o gráfico abaixo sobre as autorias dos crimes.

Da Redação

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